28 de julho de 2009

Terça-feira.

Era preciso o uso de despertador, a vontade de ver o dia se encaminhar já não era a mesma.
Levantava, procurava o outro par da meia - pé esquerdo, sabe como é, pé frio. Uma ducha gelada para sentir na pele o peso da consciência. Enxugava-se reparando no que o tempo era capaz, e a falta dele também. Olheiras que a maquiagem não cobria mais. Eco do silêncio. "É preciso muita coragem para reconhecer o desespero". Vagando pelo espaço, que não mais chamava de casa, levou as mãos à cabeça. .. Respirou fundo, resolveu buscar seus sonhos, levantou. Pegou sua bolsa, saiu e fechou a porta. Hora de trabalhar, é dia de espetáculo no circo, pessoas dependem do meu sorriso hoje.

E ri da vida.

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27 de julho de 2009

Carnavalizar.

O que se fazer quando se quer algo que não pode se ter? Eu sei, eu sei, é muito normal de se falar isso. Mas eu digo querer algo que não é comum, não é palpável, muito menos está a venda no mercadinho da esquina. Atenção. Ensina-se em escolas que a soma dos catetos ao quadrado é igual a hipotenusa ao quadrado, que Napoleão era considerado louco por sua vontade de conquista e que transitividade não pode ser direta e indireta ao mesmo tempo. Falta vocabulário para ensinar que não deve-se se jogar em um rio antes de saber sua profundidade. Nem que se tu te mexeres muito rápido poderás ficar tonto. Mudem essa postura de inibir a mente de uma criança. Quem definiu que verde não combina com roxo, amarelo e marrom? Deixa ser, como será. Aquela cabeça virar carnaval, afinal ela deverá passar o resto da vida presa àquele corpo que não voa no ritmo dela. Deixa o confete misturar com a comida para tudo virar festa ao entrar naquele corpo. Põe em exposição pensamentos e sonhos sem cobrar nada em troca - e no final, acaba-se tendo o que não se queria, de uma maneira totalmente diferente.

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Borboleta Amarela.

Já diria a propaganda: "era uma vez uma boca que se apaixonou por uma orelha...".
Mas desta vez foi diferente, não foi escutando nada, nem por comunicação vocálica.
Foi um par de olhos que procurando não achar, acabou achando outros - transbordando alegria. Uma alegria vivaz de criança arteira. Aqueles olhos sempre tão curiosos continuaram procurando novas coisas a conhecer - acharam a boca. Sorriso contagiante, seguida de um risinho envergonhado e então lábios sérios. Seu rosto exalava histórias, segredos. Mas seus sentimentos, não! Estes ficavam escondidos.
E do outro lado, existia tanta vergonha disfarçada em risadas

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11 de julho de 2009

E ri da vida

Descia a rua como sempre fazia, rua de areia - barulhenta. Descia a rua, como sempre fazia olhando pros pés - desviando buracos. Descia, a rua como sempre fazia sozinha - com a música.
O que fez eu desviar o olhar, não lembro. Vi teu nome escrito na parede em vermelho e o meu ao lado, invisível. Tropecei numa pedra.
E ri da vida.

10 de julho de 2009

Protesto!

Protesto contra as ruas irregulares e buracos em lugares indevidos que nos fazem andar olhando para o chão. Cansei, digo, optei pro tropeçar mais para rir e tentar olhar nos olhos dos que passam por mim. Deixamos, todos os dias, de ver o que há por cima dos prédios, o nosso céu azul que sabemos que existe mas que nem sempre lembramos da beleza. Esquecemos das cores que ele consegue misturar, feito criança e tinta guache, que se colocadas em um quadro diriam ser "irreais". Protesto contra o frio que congela muito mais do que nossas mãos, protesto contra o preto dos casacos pesados e o cinza das armaduras que aprendemos a usar para não nos machucar. Virei a página, quero vida. Quero um liquidificador para minhas idéias e o teu ouvido para escutá-las. Uma livro em branco, uma caixinha de lembraças nova. E o único escuro que quero ter é o do debaixo do cobertor junto a ti.

9 de julho de 2009

sobre roupa rasgada e cabelo desarrumado

Que saudade do meu tempo de piá, correr pela rua, jogar bola, andar de bicicleta... tudo isso, todo o dia.
Nos divertiamos com qualquer coisa, aquele álbum de figurinhas que não custava mais que cinco reais para completa-lo e se tivessemos sorte ainda ganhariamos um jogo de botões como prêmio, os clubinhos onde faziamos reuniões e brincavamos das mesmas coisas que poderiamos brincar em qualquer lugar mas se tornava muito mais divertido só pelo fato de ser no clubinho.
Que tempo bom, que não volta nunca mais...É verdade que é bom ir a festas de amigos, mas quando se era criança... era diferente, nos divertiamos de verdade brincando de tudo que as mais ou menos quatro horas de aniversário nos permitia e isso para desespero de nossas mães que ficavam horrorizadas com o que faziamos com nossas roupas que elas haviam comprado especialmente para irmos ao aniversário, até que chegava a hora do parabéns, coisa que nem davamos muita bola, a não ser quando algum de nossos amigos cantava algo do tipo "parabéns pra você, eu só vim pra comer..." mas o bolo sempre ficava de lado, queriamos mesmo era voltar a brincar!
Ainda hoje é divertido lembrar da infância e inventar uma história mirabolante ao passar por uma casa velha ou ao ver algum objeto estranho o problema é que nenhum dos meus amigos acredita que possa realmente ter vivido uma bruxa na casa do fim da rua...

uma pena.

7 de julho de 2009

Partida partida.

Partes... e em te dizendo adeus
não choro nem me desespero
Também não vejo pranto em teus olhos
tão belos e castanhos
No entanto, sigo sabendo que te quero

Partes... e, assim, nos despedindo
nem parece amor, uma heresia.
Pois nós estamos rindo até
como o fariam dois estranhos.
E quem, nos vendo assim, diria

Que te quero tanto e tanto...
E apenas eu sei o quanto chorei
E este pranto, pra faze-lo só meu,
no fundo d'alma o escondo,
porém as vezes tento transcreve-lo em poesia

E assim, porque fingir tão bem
que estamos alegres e felizes?
Ninguém mais sabe o que sentimos:
que é falso esse riso que esboça
e também a frase alegre que te digo!

6 de julho de 2009

Longe...

Longe de casa eu choro
E não quero nada.
Que fora do chão
Ninguém quer e não pode nada.
Sinto falta de São Paulo,
De escutar na madrugada
Uns bordões de violões,
Uma flauta a chorar prata...


(Eduardo Gudin/ Paulo Vanzolini)